O drama de ver o neto hospitalizado por três meses trouxe dores que Ivoni Pereira, 83 anos, ainda não conhecia. Com o passar do tempo, atividades simples do cotidiano, como segurar o neto no colo, tornaram-se dolorosas. Após uma série de exames médicos, veio o diagnóstico: fibromialgia, uma síndrome clínica caracterizada por dores musculares crônicas e que não têm cura.
— Eu sempre fui muito forte para aguentar a dor. Quando começou, eu fui em tudo que é médico e não aparecia nada. Ficava até com vergonha de dizer que estava com dor — lembra Ivoni.
Em Santa Maria, um projeto tem feito a diferença na vida de pessoas como a Ivoni. O Pró-Saúde é uma iniciativa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em parceria com a prefeitura municipal que leva atividade física para toda a comunidade. Atualmente, o grupo é composto por mais de 100 participantes, todos fibromiálgicos e que percebem na prática de exercícios físicos, um alívio.

Iniciativa
As atividades são ofertadas em duas modalidades: pilates, no Centro Desportivo Municipal (CDM), e natação, no campus da UFSM em Camobi. Dos 60 anos de Maria Hardt, 12 foram de convivência com a síndrome. Ela descreve o projeto como uma rede de apoio e acolhimento:
— Aqui, todos sentimos dor. É difícil de descrever. Nós precisávamos de um grupo. Aqui, a gente conversa. Quando estamos tristes, damos risadas e tudo melhora. Nós entendemos a dor do outro.
O grupo também é um espaço multiprofissional com atividades nas áreas de fisioterapia, nutrição, psicologia e farmácia. A iniciativa é a primeira no município com atendimento gratuito e especializado voltado a fibromiálgicos.
O acompanhamento contínuo com o grupo do Pró-Saúde permite que eles realizem tarefas simples do cotidiano que antes eram impossibilitadas pelas dores intensas. Quem participa já consegue ver melhorias:
— Eu tinha dificuldade até em levantar da cama, ficava "travada". Agora me levanto que é uma maravilha. Ainda tenho dor, mas é uma dor suportável — relembra Ivoni.
ATIVIDADES DO PROJETO PRÓ-SAÚDE:
Pilates
- O que - Grupo de pilates para pessoas com fibromialgia
- Quando - Quartas e sexta-feiras, às 13h30min
- Onde - Centro Desportivo Municipal (CDM)
- Como participar - As inscrições são abertas no início de cada ano. O candidato precisa apresentar o atestado médico para realizar atividades físicas. A divulgação é feita nas redes sociais do Pró-Saúde
Natação
- O que - Grupo de natação para pessoas com fibromialgia
- Quando - Quartas e sexta-feiras, às 13h30min
- Onde - Piscina da UFSM, prédio 54, no campus em Camobi
- Como participar - As inscrições podem ser feitas pelas redes sociais do Pró-Saúde ou direto na secretaria do CDM. O candidato precisa apresentar o atestado médico para realizar atividades físicas.
A síndrome
Considerada sistêmica e poliarticular, porque afeta várias articulações e músculos, a fibromialgia geralmente está associada a outras patologias, que requerem acompanhamento médico e tratamento medicamentoso. Ainda não se sabe ao certo o que causa a fibromialgia.
— Sabemos que fatores comportamentais, sociais e psicológicos favorecem fortemente o aparecimento da doença. É importante ressaltar que, além disso, 18% a 26% dos familiares de primeiro grau de pessoas com fibromialgia também desenvolvem a doença, destacando um papel genético importante — explica a médica reumatologista com área de atuação em dor, Juliana Wispel.
Os sintomas variados, por vezes, atrapalham no diagnóstico, pois é preciso descartar antes outras condições semelhantes. Neste processo, os exercícios físicos podem trazer maior qualidade de vida:
— Atividades físicas constantes auxiliam, inclusive, na redução do uso de medicamentos e sintomas depressivos — ressalta a coordenadora do projeto Pró-Saúde, Luciane Sanchotene.
Atualmente, mais de 300 pessoas têm a doença no município, sendo que a média mundial é de 2,5% da população.
Garantias em lei
Na última terça-feira (9), foi aprovado na Câmara de Vereadores de Santa Maria, um Projeto de Lei que garante atendimento preferencial às pessoas com fibromialgia no âmbito de estabelecimentos municipais. O PL 9.566 é de autoria do vereador Adelar Vargas (MDB) e teve parecer favorável de todos os vereadores presentes, antes de ser encaminhado para o Executivo Municipal.
Ao Diário, Carolina Cunha, uma das gestoras do grupo Fibromialgia SM, comentou sobre a decisão:
— Foi maravilhoso ver a nossa luta sendo falada por todos os vereadores presentes. Nós conseguimos unir todos eles, independentemente de partido, é uma união única em prol da nossa causa.
A aprovação da lei se torna ainda mais significativa por ter sido discutida na semana do Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento da Fibromialgia, comemorado nesta sexta-feira (12). Até 19 de maio, o grupo está realizando uma programação alusiva ao Maio Roxo.